segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nossa Senhora do Vencimento!

Por mero acaso, deambulando pelo nosso país, passei nesta pequena localidade entre o Pinhão e S. João da Pesqueira, no Alto Douro Vinhateiro.
Com a crise reinante que nos cerca por todos os lados, acredito que, muito em breve, este será um local de grandes peregrinações... À cautela, fotografei e registei o local.
Nunca se sabe o dia de amanhã!
(Aceitam-se inscrições para viagens de autocarros e comboios)



Neste Pitoresco local
Existe uma capelinha
Que ampara o desigual
De alma como a minha
Senhora do Vencimento
Levai-me Douro acima
Para acabar meu tormento
Nas minhas promessas
Prometo esclarecimento
Porque vejo tudo às avessas
Do governo dum jumento
Levai-me a essa Senhora
Sinto-me estrangulado
Para que a mão protectora
Da Senhora do Vencimento
Socorra este amargurado
Acabe meu padecimento
Esvaziam-me o bornal
Oh, enorme sofrimento
Fazem-no de forma canibal
Num ignóbil tormento
Matando os pobres de Portugal...
ATVerde

Soneto quase inédito!

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO - Soneto escrito em 1969.