7 Dias sem… comer pão!
A confissão fica-me mal? Quero lá saber. Digo-o, melhor, escrevo-o e subscrevo-o. Então com manteiga, da “verdadeira!”, Hummm…!
Domingo: É nosso hábito, antes da Missa das nove, passar com uma hora de antecedência pelo estabelecimento de pão quente para tomarmos a respectiva meia-de-leite e pão com manteiga, aproveitando também para lermos o jornal. Pão fresquinho/quentinho, ainda a fumegar, enchendo as nossas narinas com aquele cheirinho que todos conhecemos. Abri-lo com jeito e barrá-lo com manteiga que se derrete sem dificuldade, trincá-lo e sentir o delicado estaladiço da crosta a desvanecer-se na boca é gostosamente um pequeno lauto muito agradável. Ou queimar os dedos para tirar do lume aquela torrada de pão robusto que vai merecer manteiga e uma talhada de queijo fresco, acabadinho de sair do frigorífico. O contraste leva-nos ao… suspiro. Ou arrancar um pedacinho – de pão de hoje ou da véspera, que interessa isso – e molhá-lo nos sucos que restam do frango assado da muito distante infância…
Bem, se estas linhas não vos explicam exactamente a devoção que tenho ao Pão-nosso de cada dia, escusam de ler o resto. Não irão entender nadinha! Este primeiro dia não custou nada. Passei-o a imaginar as mil formas de comer pão que me dão prazer e, na verdade, parece que estou farto…
Combinámos passar uma semana sem comer pão. Este esforço ou jejum, tem como princípio saber ou poder avaliar a grande indigência mundial daqueles que não o comem por não o terem.
Assim:
Começamos no Domingo
Aposta por nós aceite
Tomamos apenas um pingo
Nada de pão, nem de leite
Quando chegou a Segunda
De manhã, na ocasião
Começou a barafunda
Não se pode comer pão
Caminhando para Terça
Pelas oito da manhã
Houve a mesma conversa
Pão, hoje não há
Chegou a quarta-feira
Pão, que saudade
Não veio a padeira
Nem de manhã nem de tarde
Esperemos para quinta
Pode haver alguma sorte
Acabar por fazer a finta
À jura do nosso porte
Dizem que a sexta-feira
É sempre dia de azar
Se calhar faço a asneira
E o voto vou quebrar
Oh Sábado, trás o maná
E eu com água na boca
Comer pão só amanhã
Hoje ninguém lhe toca!
Finalmente é Domingo
A fome já nada me arreiga
Eu não quero o pingo;
Meia-de-leite e pão com manteiga
É esta a nossa história curta
Para quem possui fartura
Que nos colocou em disputa
Uma ideia fictícia de loucura
Haja maior respeito pelo pão
E, por quem dele muito precisa
Porque não pode haver perdão
Por falta dele a quem agoniza…
Por : Agostinho Teixeira Verde
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